quarta-feira, 8 de janeiro de 2014


Assim chegou ao fim o último livro sobre as aventuras de Michael Blomkvist (jornalista de investigação) e Lisbeth Salander (hacker), com um grande desgosto para quem lê. Fica um vazio, depois de terminada a leitura, fico um sentimento de tristeza e indignação, por tamanho talento ter-nos abandonado tão prematuramente. Mas a vida é assim. Ficam os três livros da colecção Millenium, fica a genialidade do Stieg Larsson, que está bem presente ao longo destas três obras.

A Rainha no Palácio das Correntes de Ar é a continuação do segundo volume da saga, Lisbeth Salander e Michael Blomkvist preparam a vingança do passado da Salander, planeiam toda uma estratégia com um objectivo bem específico: vingar quem no passado massacrou a Lisbeth Salander. Se conseguem? Leiam o livro, mas quem acompanha, in loco, as aventuras destes dois, consegue adivinhar facilmente o resultados. Novas personagens, todas elas densamente descritas, seria fácil perder conteúdo, perder-se da história, quando estão envolvidas tantas personagens, mas Stieg Larsson mantém-se sempre muito taxativo e organizado, nada é deixado ao acaso, todas as personagens têm a dedicação que merecem, deixando-se o grande emaranhado psicológico para as principais: Lisbeth Salander e Michael Blomkvist. Tudo é planeado ao pormenor, a um bom ritmo literário, momentos mortos e momentos em que apetece logo ler a página ao lado, saltar parágrafos, tamanha é a ansiedade de descobrir o fim. De um detalhe ao nível do melhor relojeiro suíço, na arte de concertar pequenos relógios, tudo bem amarinhado, várias linhas com que se costurar e não perde um ponto de costura, consegue dar um fim digno a tudo, ou quase tudo.

 Os temas que são abordados em todos os três livros são actuais e pertinentes, críticas à sociedade sueca, a luta pelos direitos das mulheres e a violência doméstica. Não se tratam apenas de um conto de aventuras, é bem mais que isso, é aproveitar a escrita para lançar para a discussão, para a realidade, temas muito sensíveis, que tendem a passar ao lado da sociedade. Uma colecção que transmite, ao leitor, a vontade de conhecer a Suécia, a vontade de explorar os temas abordados, em suma, um conjunto literário que se emprenha no leitor de tal forma, que aposto que deixa qualquer um em ressaca literária, logo após o término dos três livros.

Haverá um novo livro sobre a saga, escrito pelo David Lagercrantz, tratando-se de um escritor completamente distinto de Stieg Larsson, estou curioso para ler o que aí vem, mas algo céptico ao desenrolar da vida de Blomkvist e Salander. Larsson tinha planeado escrever dez livros sobre as aventuras, destes dois, e ficou por apenas três livros; esboços de um quarto que não são levados em conta pelo David Lagercrantz. Espero que não se tente copiar um estilo de escrita, uma abordagem única feita a determinados temas, que siga fiel ao seu estilo e dê uma continuidade digna e honesta a Blomkvist e Salander. Stieg Larsson merece-o, com toda a certeza.

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